Galápagos

Galápagos

22 de maio de 2011

Bali 1 – a ilha dos Deuses!!!

            No belíssimo “A arte de viajar”, Alain de Botton descreve quanto mistério e esperança estão contidos num “departure board” de um aeroporto. Ao visualizar tantos destinos diferentes, alguns exóticos, somos tomados em geral por uma sensação de excitação e curiosidade. Foi isso que aconteceu comigo quando, no aeroporto de Changi, em Cingapura, avistei meu vôo para Bali no “departure board”. Interessante notar também como os aeroportos, por se tratarem de locais transitórios, representam de fato uma plataforma para algo novo, uma nova possibilidade.



         Bali é um oásis hindu em meio à maior população muçulmana do mundo! (vide meu post Cingapura 6 sobre o Asia Civilizations Museum)
         Só para se ter uma idéia são 240.000.000 de habitantes (na Indonésia toda) aproximadamente. Logo, uma população maior que a brasileira em um território infinitamente menor.
         A Indonésia foi colônia holandesa na época do enorme poder da Companhia das Índias Orientais e também foi ocupada pelo Japão durante a 2ª Guerra Mundial, assim como quase todos os países do Sudeste Asiático.
         Em Bali, também se usa a mão inglesa, apesar de não ter sido ocupada por eles. Acho que pela proximidade de outros países de mão inglesa, a mesma acabou valendo por aqui também.
         Interessante que todos os países pelos quais passei nessa viagem até o momento adotam essa mão de direção (África do Sul, Cingapura e Indonésia). Acho bom olhar o mundo “ao contrário”! Melhor dizer sob outra perspectiva.
         Quanto à população indonésia, eles têm a pele bem morena, meio “índios” e os olhos levemente puxados. Ao contrário de outras ex-colônias holandesas, como a África do Sul e Curaçao (Caribe holandês), por aqui não se vêem homens louros enormes (como locais - como turistas, há)!
         Para entrar em Bali, usei meu passaporte português, que garante 30 dias de permanência (em Cingapura e na África do Sul, garante 90 dias de permanência sem visto – se tivesse usado o passaporte brasileiro, teria apenas 30 dias em Cingapura).
         Em Bali e na Indonésia em geral, o visto se adquire na chegada e custa US25 para 30 dias. Todo mundo ganha o visto, acho que acaba funcionando como uma maneira de arrecadar dinheiro. No cartão de imigração, está bem claro o destino dos traficantes de drogas: pena de morte. Por isso, é super importante embalar a sua mala antes do embarque, naqueles estandes de aeroporto, pois há casos em que colocam droga na bagagem de gente inocente. Pra servirem como “mulas”, é claro.
(veja o warning em vermelho)

         Assim como África do Sul e Cingapura, para entrar aqui em Bali também se exige a vacina da febre amarela para brasileiros. Mas, como entrei com meu passaporte europeu em todos esses países, até agora não precisei mostrar o certificado.
         Já é a 3ª vez em que vou trocar dinheiro (na África do Sul, usei o Rand e, em Cingapura, o dollar de lá) e, desta vez, a moeda é a rúpia da Indonésia (USD1 = a mais ou menos 8.400 rúpias).
         Dividi minha estadia em Bali em 2 partes: 5 dias na praia, em Uluwatu e 8 dias nas montanhas, em Ubud.
         Um casal amigo meu que já esteve em Bali me indicou um hotel ótimo em Uluwatu, em cima do penhasco, o Blue Point Villas. O hotel não é super luxuoso, mas é bem confortável e tem uma piscina com borda infinita, com uma vista do mar incrível!
(piscina do Blue Point Villas)

(Uluwatu Beach)

         Outro amigo meu, que é fotógrafo da National Geographic, me indicou uma dive shop aqui que reservou o hotel e organizou todos os meus transfers e mergulhos. É a Bali Air Diving, cujo símbolo é o sun fish ou mola-mola, um animal que se pode ver em Bali de julho a outubro e parece uma baleia. Infelizmente, eu não vi, pois vim em Maio.
         Em Ubud, optei por um hotel do grupo COMO resorts, o Uma Ubud, um dos hotéis mais FANTÁSTICOS em que já me hospedei na vida! De Ubud, vou falar mais tarde. Todo mundo já viu e/ou já leu “Comer, rezar, amar” e Ubud é onde se passa o final da estória. Aliás, a equipe do filme ficou no meu hotel.
(piscina do Uma Ubud)

(spa do Uma Ubud)
 
 
         Mas, voltando à minha chegada, Aris, o motorista da Bali Air Diving estava me esperando no aeroporto, que é bem “simplesinho”. Seu 2º nome é Aris. O 1º nome é Made porque ele é um segundo filho. Em Bali, não importa o sexo, todo 1º filho se chama Wayan, o 2º Made, o 3º Nyoman ou Komang e o 4º Ketut. Se a família partir pro 5º filho, será novamente Wayan e por aí vai. Então, para diferenciar alguém, tem que perguntar qual o 2º nome da pessoa. Se você gritar Ketut no meio da rua, a torcida do Flamengo vai responder.
  
         Ao chegar em Bali, dá para ter uma idéia do caos asiático. Ao contrário de Cingapura, aonde não se vê nenhuma bagunça no arborizado caminho para o aeroporto, a estrada a partir de Denpasar (a cidade aonde fica o aeroporto balinês) é cheia de motocicletas disputando espaço com carros, pessoas e animais. Também se vêem lojinhas e restaurantes meio “moquifos”. Na estrada a partir do aeroporto de Cape Town, na África do Sul, dá para ver a pobreza das townships, que aparecem espaçadas na estrada. Mas, não dá para ver como é dentro. A pobreza de Bali, por outro lado, é diferente. Em geral, é tudo muito estreito, com gente amontoada e noções de limpeza não muito ortodoxas. E milhões de motos, nunca vi tantas e com tantas pessoas em cima da mesma (muitas vezes 2 adultos e 2 crianças)! É que o trânsito é péssimo e de moto dá para se locomover melhor. Atualmente, inclusive, é mais barato comprá-las e há crédito.
(um pouco do caos)

(a moto do meio tinha 2 crianças e 2 adultos)

Faço questão de ressaltar que também tem muita beleza em Bali, sobretudo beleza acima do caos: nos templos, nas oferendas, nas roupas, na comida, nos arrozais e principalmente na natureza exuberante, que foi Deus quem fez!
Qualquer casa balinesa, por mais simples, tem sempre um mini-templo e altar para rezas, oferendas e casamentos. Os balineses casam em casa, vale dizer na casa da família do noivo. Para eles, é muito importante ter um filho homem, porque a filha mulher tem que viver com a família do marido após o casamento.

E normalmente eles casam cedo. A filha do meu motorista estava junto com ele no aeroporto e ficou apavorada quando soube que eu não sou casada.
(exemplo de casa balinesa)
 
 
Bali é conhecida como “ilha dos Deuses” (“island of Gods”). A espiritualidade deles é impressionante! Todo dia, eles preparam uma pequena oferenda para os deuses, feita de flores e com um apoio da folha da bananeira. Essas oferendas são vistas em todos os lugares, até mesmo dentro dos carros. Eles estão sempre agradecendo e pedindo proteção! Por causa dessa fé tão grande, acreditam que nunca nenhuma catástrofe de grandes proporções aconteceu em Bali. A Indonésia sofre com terremotos o tempo todo, mas normalmente próximo a Jakarta, apesar da falha tectônica passar bem perto de Bali. Em fins de 2004, um terremoto nesta região, conhecida como Círculo de Fogo do Pacífico, desencadeou a grande tsunami que devastou vários países asiáticos. Banda Aceh, no norte da Indonésia foi o local que mais sofreu. Mas, nada aconteceu em Bali.
(veja o detalhe da oferenda na piscina do Blue Point Villas)

 
 
Outra coisa que marcou a ilha foram dois atentados terroristas na região de Kuta, em que bombas explodiram dentro de boates. Os balineses acreditam que Kuta tem uma energia ruim, é muito cheio e caótico o tempo todo, por isso passei longe. Além disso, o local atrai muita gente super jovem estilo “mochileiro que não gosta de banho” atrás de bebida, droga e sexo fácil. Ouvi várias pessoas dizerem que os atentados são fruto dessa energia ruim e deveriam servir como alerta.
Toda essa devoção e um certo misticismo trazem uma “vibe” incomparável para a ilha! Eu vou tentar descrever com palavras, mas para entender Bali só mesmo estando aqui.
O hinduísmo praticado aqui é diferente do praticado na Índia, que eles acham radical, assim como aqui não há o rígido sistema de castas. Os templos têm todo um estilo próprio. E a vaca não é sagrada em Bali.

Os hindus acreditam que o mal e o bem coexistem para criar um certo equilíbrio no mundo, pois não daria para saber o que é o bem se o mal não existisse. Assim como o dia e a noite, o calor e o frio, etc.

Aliás, a única coisa que achei meio “baixo astral” é um ritual de sacrifício animal (rinha de galo) que é praticado em determinadas cerimônias. Passei na porta de um lugar com muitas pessoas em volta de uma roda e o motorista me disse que era isso que estava acontecendo. Ele notou o quanto eu fiquei chocada e disse que fazem só para propósitos religiosos, não é para crueldade. Mesmo assim, não entendo. Não combina com Bali, nem com todo o lado pacífico da religião. Da mesma forma, se Ganesha é um Deus importante e se materializa na figura do elefante, porque usam o elefante em parques para turistas? Óoooooooooooobvio que eu não fui. E porque tem tanto cachorro na rua? Me disseram que vários desses cachorros têm dono, mas passeiam livremente durante o dia. É bem verdade que vi vários com coleira. Mas, não sei não... Por outro lado, vi muita gente tratando bem seus bichinhos, como gatos e cachorros.
O povo balinês é um dos mais simpáticos e afetuosos que já conheci. Eles sempre te saúdam com as mãos unidas em triângulo e uma leve reverência de cabeça. Fiz questão de aprender, pelo menos, a dizer obrigada na língua balinesa (suksman) e de nada (mowali). Eles ficam tão felizes com isso!
A estória da Indonésia é um pouco triste porque o país foi oprimido pela ditadura da família Sudharto durante 30 anos e a corrupção levou o povo a mais extrema pobreza. Aliás, dentro do conceito de “responsible travel” que eu venho falando aqui no blog, vale dizer que não se deve ficar hospedado em nenhum hotel que pertença a essa família. Eles saíram do poder, mas são donos de muita coisa e continuam explorando as pessoas. Procure saber antes a quem pertence o seu hotel.
Dizem os balineses que o atual governo é melhor, mas ainda há muita corrupção. As pessoas são pobres, mas tenho a impressão que estão melhorando. Meio que como os pobres do Brasil, todo mundo tem um celular, crédito para comprar uma moto e por aí vai. Mas, as casas daqui são bem melhores que as favelas brasileiras. Pelo menos por fora. O que eu acho é que não há tratamento de esgoto. O lixo aqui também é um problema, tem muito lixo por toda a parte. Falta educação ambiental e cuidado do governo também. Os funcionários dos hotéis têm uma boa noção a respeito, mas acho que muita gente não tem. Durante os meus mergulhos, recolhi muito plástico do mar. Uma pena isso num lugar tão lindo...

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