Galápagos

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28 de abril de 2011

África do Sul 6 – Gorah Elephant Camp

                   No dia seguinte, somente deu tempo de tomar café no Radisson e seguir para o Gorah Elephant Camp com o transfer que eu agendei. Encontrei uma agência muito boa aqui para isso, a NMB tours, cujo dono é um inglês de nome Collin Dilland. Eles agendam transfers e também alguns passeios por preços ótimos.
                   De Port Elizabeth até a entrada do Addo são cerca de 45 minutos, como já disse, e aí você roda mais uns 30 minutos numa estrada de terra só para veículos 4x4.
                   E então chega no paraíso! O Gorah Elephant Camp é um lugar mágico, que não dá para descrever com palavras, só mesmo estando lá. Mas, vou tentar. É um lodge membro do seleto grupo Relais & Châteaux, hotéis super charmosos. Já tinha me hospedado uma vez num hotel com este selo, o Quinta das Lágrimas em Coimbra (Portugal), que é fantástico. Então, tinha muitas expectativas, que foram superadas!





                   Tem uma casa principal, logo na entrada, que é a antiga sede de uma fazenda e, ao redor, várias tendas de luxo no melhor estilo “Out of Africa” (quem viu o filme com a Meryl Streep e o Robert Redford sabe do que estou falando). Também tem uma área de piscina, que é a única cercada. Todo o resto do lodge não possui cercas, o que quer dizer que os animais podem estar em qualquer lugar! Por este motivo, um dos rangers (guardas) leva cada hóspede à sua tenda durante a noite. Não tem luz elétrica, os poucos artefatos são alimentados por energia solar e de noite usam-se lampiões e velas.

(olha os ovinhos de Páscoa no detalhe)









                   O staff é todo muito amável e gentil e cada detalhe é bem cuidado. Todas os game drives e refeições já estão incluídos na diária e quem cuida da cozinha é uma chef Relais & Châteaux, que faz pratos incríveis e super bem decorados.

(detalhes do chá da tarde)
                   O legal desse hotel é que ele procura influir o mínimo no meio-ambiente, cuida bem dos funcionários e ainda ajuda umas townships na região de Nelson Mandela Bay. Escolher ir para um lugar destes é responsible travel. Além de ser uma experiência incrível!
                   Logo que eu cheguei, serviram o almoço numa varanda em frente a um grande poço de água. Por este motivo, os animais tendem a ali se reunir. Neste dia, tinha zebras e, no dia seguinte, no café, um elefante tomando banho. Espetacular!


                   O dia da chegada era domingo de páscoa e tinha uma família grande aparentando ser indiana no almoço. A senhora mais velha, que tinha um “bindi” na região do 3º olho, veio na minha mesa me oferecer um pedaço do bolo do aniversário da filha dela e sentou pra conversar comigo. Eles são a 4ª geração de indianos em Port Elizabeth e têm uma loja no Boardwalk. Ela me contou que, na época do apartheid, eles só podiam entrar na loja e de lá voltar para casa. Não podiam pisar na praia. Não paro de me impressionar com essas estórias. Tudo que eles mais sonhavam era ter liberdade de ir e vir, o que agora felizmente têm.
Engraçado é que muita gente que pode ir aonde quiser, nunca sai do lugar.
Após o almoço, há um tempo livre para descansar e às 15:15hs, é servido um chá antes do game drive de 16hs. A coisa mais linda é o pôr-do-sol na selva africana! Nesse dia, o jeep caiu num buraco e tivemos que ser resgatados por outro veículo, mas nada grave aconteceu. Enquanto isso, o ranger montou tipo um picknick com vinho, queijos e frutas secas.

(esse é o Gil, meu ranger)



Na volta ao lodge, eles acendem as lareiras da casa principal, servem drinks seguidos do jantar. Você escolhe o que quer num menu com umas 3 opções.


Na hora de dormir, fica tudo um breu, quando se desligam os lampiões e, de dentro da tenda, dá para ouvir os barulhos de todos os animais. Achei isso incrível!
O livro “A arte de viajar” do Alain de Botton, meu livro preferido, fala o quanto é necessário ir para lugares aonde a natureza seja tão, mas tão forte que o humano se sinta pequeno. Ele diz que somente assim o ser humano é capaz de entender a magnitude da vida. Num lugar como esse, certamente tal afirmação ganha corpo e pertinência.
Na mesinha do quarto, o hóspede é saudado com o seguinte bilhete (veja foto abaixo). Tinha também uns ovinhos de páscoa.
"A natureza não corre, ainda assim tudo se realiza." 
No dia seguinte, um dos funcionários, veio me acordar com uma bandejinha com café e cookies às 7:30hs, antes do café ser servido na varanda, a partir das 8hs. na bandejinha, vem também um informe do tempo. Foi quando vi o elefante tomando banho, dava para ouvir o barulhinho da água!


Depois do café, começa o game drive matinal, às 9hs, seguido da mesma rotina de almoço, chá, game drive do crepúsculo e jantar descritos acima.
Como era minha 2ª e última noite por aqui, ao retornar para o quarto, encontrei uma cartinha, desejando boa viagem. Como é muito frio de noite, eles aquecem o quarto com aquecedores a gás e colocam umas bolsas de água quente sob os lençóis. Como eu disse, cada detalhe é bem pensado é cuidado. Até na despedida, eles te entregam uma água para o caminho e uns biscoitinhos em formato de elefante. Eu amei! 
Dentro do Addo Elephant Park, reserva onde se situa o Gorah Elephant Camp (meu lodge), vi macacos, kudus, antílopes, elands, red hartebeest, pássaros, zebras, búfalos; porcos, cachorros e gatos selvagens (que eu vi com um ratinho balançando dentro da boca); e principalmente elefantes, muitos elefantes!




(Esse cactus não é nativo daqui, foi introduzido pelos antigos fazendeiros. Na verdade, é o tipo de planta natural da América Central e do Sul. Vi muito esse cactus em Galápagos e também em Curaçao, as iguanas comem e adoram. Mas, a plantinha acabou se adaptando bem aqui, porque os elefantes também a adoram! Eles comem tudo que é verde.)


(Minha flor preferida é a margarida e aqui há a do tipo selvagem.)

(eis os porcos selvagens, presas suculentas para os leões)




(um kudu fêmea, não tem chifre como o macho)


(da mesma forma, a leoa não tem juba)

(dá pra ver a leoa?)




A maioria desses animais é herbívora, alimentando-se somente de grama e outras plantas, com exceção dos leões e hienas, os mais temidos da selva. Por este motivo, cada grupo se camufla como pode, sendo este o motivo de possuírem muitas listras. Aprendi que os leões visualizam um tipo de “mancha” quando avistam suas presas, então as listras dificultam essa visualização. Muitos grupos diferentes acabam se reunindo, como as zebras e kudus, por motivos de defesa. Em um grupo grande, a chance de morrer é menor. Quando os leões atacam, normalmente matam 1 animal do grupo, enquanto os outros fogem por mero instinto de sobrevivência. Por outro lado, se um filhote é atacado, a mãe sai em sua defesa. Com os humanos, não é muito diferente. Quem já não viu uma aglomeração em torno de um acidente na estrada? As pessoas ficam assistindo e não fazem nada. É o velho pensamento “antes ele do que eu”. A boa notícia é que os leões não matam por matar, só quando estão com fome. Então, se matam uma presa bem grande, podem ficar dias sem comer e a maior parte da água que bebem vem da comida.
(as manadas juntas por proteção: zebras e kudus; tem até um avestruz no fundo)
                   A maioria desses grupos também é formada por um macho dominante, as fêmeas, os filhotes e os machos que perderam a luta pela dominância. Quanto maior e mais forte o macho, maiores suas chances de prevalecer sobre os outros machos e de serem bem sucedidos na côrte às fêmeas. Quando eu fui para Galápagos, vi isso claramente com os lobos marinhos, onde o macho alfa, normalmente o maior e mais forte, vive cercado das fêmeas e não deixa nenhum outro macho se aproximar. Qualquer semelhança com os humanos é mera coincidência. A juba dos leões é um instrumento de conquista, em outros animais é o chifre e por aí vai. Aliás, falando em chifre, dá para quebrá-lo e recuperá-lo, desde que ele seja feito de queratina, não de osso. No caso dos kudus p.ex., o chifre é parcialmente feito de osso e não se refaz.
         Com os elefantes, acontece algo curioso, a líder da manada é uma elefante fêmea e a ela os machos se submetem, sendo comum ver alguns machos sozinhos andando longe da manada. Isso também acontece com as abelhas, que possuem a abelha rainha e com outros tipos de insetos, como os “termites” (cupins), que montam umas casas enormes tipo de João de barro e são muito importantes porque comem toda a matéria morta.
         Não conseguimos ver hipopótamos, porque eles não gostam do sol e, por isso, ficam semi-submersos a maior parte do dia, possuindo hábitos noturnos de caça. E também não vimos o rinoceronte preto, ameaçado de extinção. Mas, vimos muitos outros, conforme já mencionado, inclusive leões!
          O momento mais emocionante para mim foi no game drive do entardecer no 2º dia, quando nos deparamos com uma enorme manada de elefantes, com muitos bebês. O ranger nos avisou para não fazer nenhum barulho, nem nos mover no veículo, para que eles chegassem bem perto, o que aconteceu. Um bebê cruzou bem na frente e perto do jeep e ficou parado comendo grama. Dava para ouvir o barulho dele mastigando! O olhar do animal é uma coisa impressionante, é muito inocente!




Não é lindo? Fiquei totalmente sem palavras! 
         Fiz no total 4 game drives no Gorah, inclusive um matinal no dia da minha partida. Fui embora de lá chorando, nunca vou esquecer as experiências que eu vivi nesse lugar e também as pessoas que eu conheci!
(esse é o William, um dos funcionários muito legais do lodge)


         Voei de volta a Cape Town de tarde para apenas passar mais uma noite antes do meu vôo no dia seguinte rumo a Cingapura, minha 1ª parada na Ásia.
(Tirei essa foto no Waterfront de Cape Town. Olha a setinha para Singapore.)